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Novas regras ajudam a amenizar ruídos externos e causados por vizinhos

Mudanças no mercado da construção e novos materiais acústicos tornam mais viável (re)conquistar o que um dia já foi tão simples

Por Giuliana Capello
Atualizado em 9 set 2021, 10h34 - Publicado em 3 jul 2018, 11h28

Depois de um dia de trabalho, tudo o que se deseja em casa é paz e tranquilidade. Mas você ouve o vizinho assistindo à final do campeonato, as crianças do andar de cima brincando de pega-pega na sala e o caminhão da coleta de lixo parece invadir a mesa do jantar. A poluição sonora, identificada como um dos principais problemas dos moradores de condomínios, tem basicamente duas fontes: ruídos externos que penetram as fachadas dos prédios (trânsito, aviões, casas noturnas, estádios de futebol, obras) e aqueles gerados em apartamentos vizinhos, separados apenas por lajes e paredes internas. O arquiteto Davi Akkerman, do escritório Harmonia Acústica, em São Paulo, explica que quando a fonte e o receptor estão no mesmo ambiente (como em um home theater, por exemplo), o conforto acústico é obtido por meio de elementos que promovam a absorção sonora, a exemplo de feltros, mantas e painéis. “Já nos casos em que a fonte e o receptor ficam em ambientes distintos é necessário bloquear o som adotando-se elementos de isolamento específicos”, completa. Em edifícios, os pontos mais vulneráveis aos barulhos externos são as portas e janelas situadas nas fachadas, que nem sempre oferecem qualidade e boa vedação. Precisamente o ponto crítico de um apartamento com duas suítes voltadas para a rua onde ocorre uma feira livre, na capital paulista. “Resolvemos o problema substituindo as janelas e a porta-balcão originais do prédio de 30 anos por outras, no mesmo padrão, feitas por um fornecedor especializado em acústica”, diz a arquiteta Ieda Korman, autora da reforma no imóvel. Vale saber: na impossibilidade de trocar a esquadria existente, uma alternativa é instalar uma segunda janela por dentro. Demais intervenções pedem a orientação de um profissional especializado em acústica, um arquiteto ou engenheiro.

“Nas fachadas, o grande segredo é evitar frestas nas janelas e portas e cuidar da vedação durante a instalação dos caixilhos”

Davi Akkerman, arquiteto

 

 

 

RANKING DO BARULHO

A poluição sonora é o segundo problema ambiental que mais impacta a saúde da população

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Silêncio, por favor!
Atrás apenas da sujeira que paira no ar das cidades, a poluição sonora é a maior causa de males como dores de cabeça, insônia e estresse. A partir de 75 decibéis (o equivalente ao barulho de uma rua com tráfego intenso), há riscos de perda auditiva, que se agravam quando a exposição ao ruído é prolongada.

45 decibéis é menos do que uma conversação o tranquila . esse é o limite estabelecido pela ABNT* para o período noturno em áreas residenciais

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*Associação Brasileira de Normas Técnicas

 

Drama histórico
São Paulo está entre as cidades mais barulhentas do mundo. E o problema vem de longe. Em 1867, já havia multa para carros de bois com eixos que rangessem por falta de graxa. Em 1912, um ato municipal proibiu o estalo de chicotes em cavalos que conduziam carruagens, para evitar o barulho.

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250 mil habitantes. Toda cidade na União Europeia com essa população (ou maior) deve ter um mapeamento acústico para identificar as áreas ruidosas. No Brasil, Fortaleza já possui o seu, São Paulo ganhou um projeto piloto (www.mapaderuidosp.org.br) e Natal, Brasília, Maceió, João Pessoa, Santa Maria (RS) e São Luís começaram iniciativas nesse sentido

 

 

 

CONSTRUTORAS MAIS ATENTAS

A NBR 15.575, da ABNT*, que completa cinco anos este mês, obriga as empresas a oferecer um nível mínimo de desempenho acústico nas habitações que erguem – isso afetou toda a cadeia de materiais relacionados

Até junho de 2013, quando entrou em vigor a Norma de Desempenho (como é mais conhecida), a performance acústica era assunto negligenciado pelas construtoras por falta de regras e legislações. O que se via até então eram prédios novos subirem dotados de paredes internas cada vez mais finas e lajes entre pavimentos com apenas 7 cm de espessura, em detrimento do conforto dos moradores. Com o advento da NBR 15.575, isso mudou. Ela estabeleceu três níveis de desempenho acústico (mínimo, intermediário e superior) e definiu como obrigatório o atendimento ao menor deles, considerando-se o barulho percebido em lajes, paredes internas, fachadas, coberturas de uso coletivo, sistemas de elevadores e até descargas e tubulações hidráulicas. “Foi um marco histórico, que obrigou as construtoras a olharem para o tema”, afirma Davi Akkerman, também conselheiro da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica). Segundo Fábio Villas Bôas, diretor do Sinduscon-SP e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da norma, ainda estamos numa fase de transição, com a entrega dos primeiros empreendimentos baseados nas novas regras, mas já é possível sentir as mudanças. “Os fabricantes de materiais de construção, por exemplo, agora investem em programas setoriais de qualidade para comprovar o bom desempenho de seus produtos”, conta. Tamanha movimentação se justifica. Afinal, tratar acusticamente um apartamento pronto pode custar muito caro e nem sempre é viável, avalia o engenheiro Zew Tabacnik, da ZW Engenharia. “O ideal é as construtoras entregarem unidades com mais qualidade – e a tendência é o consumidor se tornar cada vez mais exigente em relação a isso”, diz ele.

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(Samuel Rodrigues (Ilustração))

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