A cidade e a arquiteta Catherine Otondo
A especialista relaciona a rotina feminina à necessidade de melhorias nos centros urbanos. “Existe um campo de trabalho incrível por aí!”, afirma.
Penúltima entrevistada a refletir sobre as cidades, a arquiteta Catherine Otondo, sócia do escritório Base Urbana, apresenta um olhar sensível sobre as metrópoles a partir da perspectiva do público feminino. Como o cotidiano das mulheres influencia o desenho da cidade? Confira a seguir!
Percepção feminina – As mulheres têm uma andança mais imprevisível, porque daqui até ali a gente resolve várias atividades: vai buscar a criança na escola e já passa no tintureiro, no açougueiro… Isso exige novos percursos, calçadas melhores, pensar no pedestre, no carrinho do bebê, no carrinho de feira… Existe um campo de trabalho incrível por aí! A Paula Santoro [professora da FAU -USP] fala uma coisa muito interessante, que a alcunha cidade-dormitório só poderia ter sido dada por um homem, porque ele de fato sai dali para trabalhar, mas as mulheres continuam, vão cuidar dos seus afazeres, das crianças…
O que a escuta traz – A gente precisa estar nos lugares para entender a organização das famílias, o dia a dia das mulheres. Quando pensamos em projetos de habitação social, você vê que o espaço imediatamente depois da porta é fundamental, o dentro e fora é muito permeável. Várias mães vão trabalhar e deixam os filhos com outras mães. Como os ambientes internos são exíguos, nesse lá forinha que existe as crianças brincam, enquanto as mulheres cozinham. Então as circulações horizontais e as calçadas precisam ser maiores, com 1,80 m de largura.
Mais luz, menos medo – Isso é uma coisa das mulheres: a gente sente medo. Em vez de postes altos a cada tantos metros, na favela a gente procurou instalar uma iluminação mais baixa, que clareie o chão e aumente a sensação de segurança.
Duas rodas – A bicicleta deu a São Paulo uma relação com o lugar público muito rápida e efetiva. E nos obrigou a repensar como viver coletivamente. Ela expandiu o espaço de estar na rua.”