Residência paulista é inspirada na casa de Ray e Charles Eames
A casa dos designers foi o ponto de partida para este projeto com espaços generosos, materiais básicos e extensos panos de vidro voltados para o verde
Por Regina Galvão (texto) e Mayra Navarro (visual)
Atualizado em 27 fev 2024, 11h34 - Publicado em 5 fev 2018, 11h54
O ano de 2010 foi marcante para o empresário Tomás Cunzolo: ele se casou com a artista Rachel Hoshino, viajou à Califórnia na lua de mel e comprou o terreno para erguer a casa dos sonhos na Granja Viana, distrito a 22 km da capital paulista. Num acaso do destino, visitou, nesse mesmo período, o premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha a convite de amigos.
“Aproveitei a chance e pedi sugestões de nomes a ele, que me recomendou dois ex-alunos”, conta. Eram Vinicius de Andrade e Marcelo Morettin, vencedores, em 2011, do concurso para o projeto do centro cultural Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, inaugurado em setembro deste ano. Tomás descobriu que os dois tinham repertório de casas pavilhão, como ele e Rachel desejavam construir.
“A ideia de criar um espaço amplo e único, tal qual a casa de Ray (1912-1988) e Charles Eames (1907-1978), em Santa Mônica, em Los Angeles, nos fascinava, uma obra que prioriza a integração mais do que o individualismo”, afirma Rachel. A proposta seguiu adiante, respeitando essas premissas e enfatizando as áreas de convivência – os quartos, de tamanhos menores, serviriam só para dormir.
A construção metálica ofereceu vantagens: obra seca com paredes de drywall, agilidade na montagem, menos impacto e desperdício. “Utilizamos apenas duas caçambas para o entulho”, relembra. Nem tudo, porém, saiu a contento. “Essa arquitetura ainda é experimental no Brasil, com pouca mão de obra qualificada. Tive problema para encontrar fornecedores.”
Prolongada além do bloco central de 180 m², a cobertura metálica define nas extremidades a garagem e o pátio de 90 m². “Pensamos esses pontos de transição para dar chance aos moradores de descobrirem, com o tempo, seus usos”, afirma Vinicius, sócio de Marcelo Morettin no Andrade Morettin Arquitetos.
Transparente e ainda sem vegetação, a residência causou certo desconforto logo após a mudança. “Os três primeiros dias foram difíceis, mas, curiosamente, essa transparência acabou nos deixando seguros porque enxergamos tudo em volta”, diz Tomás.
A expectativa é de que as árvores cresçam para amenizar a incidência do sol. “As copas se interligarão à cobertura, formando um único platô. Daqui há algum tempo, eles se sentarão na sala com a sensação de estarem no meio da mata”, prevê o arquiteto.