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Projeto menos conhecido de arquiteto famoso é atualizado

Iluminação com led, internet sem fio, reúso de água da chuva. Essas e outras tecnologias agora integram esta casa cinquentenária, obra de Eduardo Longo

Por Eliana Medina (visual) e Cristiane Teixeira (texto)
Atualizado em 9 set 2021, 12h50 - Publicado em 8 jun 2017, 18h51

Eles ainda não haviam nascido quando o paulistano Eduardo Longo começou a inventar as residências que marcaram sua carreira de profissional liberto de correntes e estilos. Mas logo perceberam o valor da casa de 1969 à venda em um bairro da Zona Oeste de São Paulo.

“Ela tem uma arquitetura única, da qual gostamos muito. Era importante manter a originalidade do projeto do arquiteto, cujo trabalho nós já conhecíamos”, afirma a nova moradora.

A face posterior revela a regularidade das aberturas na sala (embaixo) e nos quartos (em cima). Os caixilhos de ferro trocaram o verde de antigamente pelo laranja, em contraste com o gramado e a pitangueira frondosa. (Luis Gomes/Luis Gomes)

Para revigorar a construção desgastada, adaptando-a a tecnologias atuais, a artista plástica e o marido, engenheiro mecânico, procuraram o arquiteto José Luiz Favaro – oito anos antes, ele reformara o apartamento onde os clientes e seu filho mais velho viveram até a mudança para o endereço atual.

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Numa das laterais do lote, o bloco cinza não fazia parte do projeto inicial. O térreo, acrescido anos atrás, hoje abriga o ateliê da artista plástica; em cima, foram erguidos agora o banheiro e o closet do casal. (Luis Gomes/Luis Gomes)

“Recuperamos tudo o que foi possível, do piso de cimento queimado verde até a iluminação, que é de parede”, conta a moça. “No caso dos domos para iluminação natural, eles foram mantidos e reproduzidos nas áreas ampliadas.”

O que não foi refeito recebeu alguma sinalização. “Nas fachadas, por exemplo, as partes lisas são do Longo, enquanto ficaram no chapisco as áreas construídas depois e os trechos que tiveram a cor modificada”, afirma José Luiz, explicando que o cinza substituiu o verde.

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Camadas de cera foram removidas do cimentado verde quadriculado antes que o piso fosse reavivado com cera de carnaúba no mesmo tom, num serviço da Syll Revestimentos. O artista plástico Fabio Martins, da Ide Inventiva, restaurou as arandelas, dando novo banho de cromo nas peças, trocando sua fiação e os bocais de porcelana. (Luis Gomes/Luis Gomes)

“Como o entorno é muito arborizado, tínhamos de fazer a casa sobressair. Pelo mesmo motivo, insisti para que as esquadrias de ferro, preservadas, fossem pintadas de laranja.”

Enquanto pedreiros e companhia se apoderavam do pedaço, o arquiteto estudava a obra de Longo e desencavava a história da residência. “Só encontrei uma menção a este projeto em uma dissertação de mestrado, mas acabei perdendo essa referência”, conta.

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A sala de jantar eleva-se em relação à da lareira. A fim de tornar mais segura a circulação ao redor da mesa, o patamar foi prolongado, medida que resultou nos degraus em leque. (Luis Gomes/Luis Gomes)

Bastou, no entanto, para que reconhecesse o formato triangular da planta original e o bloco emendado na ala de serviço. José Luiz conservou essa extensão e ergueu sobre ela um closet e um banheiro mais amplo para o casal, o que foi uma verdadeira saga.

No quarto do casal, o piso de cimento queimado (produto da Quimicryl aplicado pela Syll Revestimentos) é novo, pois o original estava imprestável. A abertura das venezianas foi invertida de modo que da cama se aviste o jardim. (Luis Gomes/Luis Gomes)

“Nós mandamos avaliar os alicerces e descobrimos que esse módulo contava apenas com um baldrame, incapaz de aguentar o peso extra, até porque o terreno fica em uma região de aterro. Depois de uma prospecção do solo, sapatas e microestacas reforçaram as fundações e toda a estrutura foi amarrada novamente. Só então subimos as paredes de cima”, relembra.

No banheiro, as pastilhas no nicho (Colormix) do boxe não deixam esquecer a cor que personaliza os interiores. Armários de MDF branco e folha de pínus alemão (Arcomóveis) preenchem o vão sob a bancada, protegida com hidrofugante da B&K Serv. (Luis Gomes/Luis Gomes)

Visto que a cobertura exigia nova impermeabilização, aproveitou-se para mudar o seu caimento e para cobri-la com argila expandida, material que melhorou a temperatura interna. Ainda assim, os quartos mereceram aparelhos de ar-condicionado, com condensadores alocados sobre a construção. Alterada a inclinação da laje, agora a água da chuva é coletada, filtrada e reutilizada.

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Dois dutos conduzem a chuva que cai sobre os 150 m² de laje. A cerca de 1,60 m do chão, os canos incluem um sistema de peneiras (foto) que separa folhas e impurezas, mandando para o terceiro tubo – menor e instalado entre os outros dois – a água filtrada. Dali ela segue para a cisterna subterrânea (6 mil litros) e abastece as torneiras da área externa e o tanque. (Luis Gomes/Luis Gomes)

Após quase 50 anos de vida e 15 meses de reforma, a casa ficou tão confortável e sustentável quanto os novos donos planejavam. E já acolhe mais um morador: o caçula nasceu nesse patrimônio pouco conhecido da arquitetura paulista.

Área : 323 m²; arquitetos colaboradores: Henrik Carpanedo e E Evandro Sá/Arquitetozé; construção e projeto hidráulico: Arquitetozé; projeto estrutural: Vivian Guersoni/ VCG Engenharia; paisagismo: Claudio Mariutti/Arboreto (Ilustração/Campoy Estúdio)
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