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Casa tem alvenaria estrutural e uma serralheria doméstica

Tempo bom. Além de fazer referência ao céu azul presente no dia das fotos, a frase diz respeito à fase da vida em que o casal se dispôs a mudar para o interior, inaugurando a experiência no campo, e ao prazo no qual sua nova morada foi erguida

Por Por Deborah Apsan (visual) e Joana L. Baracuhy (texto) | Projeto Hereñu + Ferroni Arquitetos
Atualizado em 9 set 2021, 13h57 - Publicado em 2 set 2016, 20h35

À medida que discorre sobre a empreitada, concluída em 2014, o arquiteto Eduardo Ferroni revela em tom de empolgação uma gama de detalhes elaborados do projeto, realizado por ele e pela equipe do escritório paulistano Hereñú + Ferroni Arquitetos, do qual é sócio – dificilmente perceptíveis sem um olhar mais atento. O simples exercício de selecionar as fotos para compor esta reportagem, por exemplo, foi um desafio: as fachadas da casa são distintas e a conexão visual entre os espaços não se dá facilmente ao entendimento. Compreender as minúcias, então… Talvez por isso ele tenha partido do básico. Já no início, explica como o terreno com duplo aclive (da rua para o fundo e na transversal) ditou a implantação e a organização em patamares – marca inconfundível do conjunto erguido num condomínio em Santo Antônio do Pinhal, SP –, privilegiando as vistas. Sim, vistas no plural (veja nos croquis), da floresta e do horizonte. “Havia uma reserva de vegetação nativa na borda do lote e achei que os fundos da construção poderiam se abrir para essa cena, com clima de mata”, resume. “No lado oposto, voltado para sul/sudeste, o panorama era amplo, outro clima. Também não dava para ignorar”, diz, referindo-se a como chegou ao diagrama em forma de “U” que viabilizou sua dupla intenção. “Diante da topografia com forte inclinação tivemos de criar áreas planas – chão mesmo”, sentencia o arquiteto, inaugurando outra reflexão.

E assim a conversa passa à vocação de cada um dos três andares: no mais alto, dedicado à convivência, reúnem-se salas de estar, jantar, cozinha e um deck ou mirante; no meio, as suítes e a entrada convergem para um pátio central; embaixo, abriu-se espaço para a lavanderia e uma oficina de serralheria. Opa, serralheria? Eduardo explica então como pensaram a estrutura da coisa toda. Para viabilizar a obra com orçamento enxuto, optou-se por uma solução mista, de alvenaria estrutural e metal. A primeira foi adotada em paredes e muros de arrimo do pavimento intermediário e do inferior, este erguido numa etapa inicial dos serviços. “Nessa base a gente instalou mesas de trabalho e o maquinário apropriado para fazer as peças de ferro planejadas para a armação a parte de cima da casa, além das esquadrias”, afirma. A intenção era se valer da mão de obra especializada no ofício vinda da cidade próxima de Caçapava, SP, e dispensar peças de aço robustas e industrializadas. Apenas perfis comuns, cantoneiras, barras chatas e quadradas – itens presentes no dia a dia de qualquer serralheiro – foram usados na confecção de pilares levíssimos, com cerca de 70 kg cada um, entre outros itens.

Só então perguntas cujas respostas deveriam constar das primeiras linhas desta narrativa encontraram espaço: afinal, quem cuidou dessa oficina? O que desejavam os donos? O arquiteto, enfim, revela que o proprietário mesmo administrou o pessoal encarregado das soldas, parafusagens e que tais, seguindo rigorosamente o detalhamento proposto para as peças. Se tal iniciativa atrasou a conclusão da morada, também deu fôlego para que ele e a mulher conseguissem reunir o dinheiro necessário para realizá-la e assegurou a originalidade e a beleza do resultado. Eles já viviam na região? Trabalhavam com isso?, impõem-se outra vez as questões, que não parecem esgotar o tema, mas esclarecem bastante. Nada disso. Aposentados, passaram os dez anos anteriores em Ubatuba, no litoral paulista, numa rotina de praia e passeios de barco. “Simplesmente resolveram mudar, experimentar algo novo, e agora curtem essa outra paisagem e um cotidiano bem calmo”, conclui Eduardo, elucidando a história.

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