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Ambientes sem paredes organizam esta casa de 4,30 metros de largura

Para o jovem casal de artistas, não havia outra maneira: na concepção desta casa de 190 m², tão importante quanto o resultado foi o processo criativo

Por Marianne Wenzel (texto) e Mayra Navarro (visual)
Atualizado em 9 set 2021, 10h34 - Publicado em 4 jul 2018, 12h33

O artista Guto Nogueira teve o privilégio de crescer em uma casa onde os espaços convidavam à liberdade e a experiências táteis, vivências fortes o suficiente para formar seu repertório cultural. Quando, já casado e com duas filhas, Guto decidiu construir, a escolha natural recaiu sobre Chico Barros, autor da adorada residência de sua infância e amigo da família. O profissional aceitou de bom grado o convite, mas disse ao jovem cliente que gostaria de desenvolver o trabalho em parceria com um ex-aluno seu. “Vi nessa ideia uma chance de me atualizar e aprender com ele. É o típico caso do pupilo que supera o professor”, elogia Chico.

Nesta vista a partir dos fundos da casa, nota-se que a ligação com a edícula também se dá por uma passarela no piso superior. “Quando as garotas crescerem, uma delas certamente vai querer ocupar o quarto hoje dedicado aos hóspedes e o acesso pode acontecer por aí”, fala o arquiteto Chico Barros. Todo o trabalho de serralheria foi encomendado à Colombo Esquadrias. (Pedro Napolitano Prata/Divulgação)

Sobre o mestre, Erico Botteselli, integrante do Grupo Garoa, devolve: “Minha primeiríssima aula na graduação foi a dele, com quem aprendi o que é arquitetura”. Hoje, ao analisarem o resultado juntos, Chico avalia: “Esta casa é arquitetura. Simples, porém instigante. Nós nos preocupamos muito com a construção dos vazios, com a materialidade, e incorporamos sugestões do casal, como o uso da cor. As conversas evoluíram de um jeito interessante, amoroso”, afirma. O morador concorda.

Minha mulher e eu somos artistas e também entendemos o projeto como um processo criativo. Topamos ajustes e fizemos escolhas que até causaram certo impacto no orçamento, mas deixaram a obra melhor”, conta Guto. Um exemplo? O investimento na estrutura metálica. Se toda a casca da construção emprega blocos de concreto, sistema simples e econômico, o uso das vigas de aço possibilitou o aproveitamento total da largura útil do lote sem a necessidade de erguer paredes ou pilares intermediários, algo bem-vindo quando se fala de uma medida que chega a apenas 4,30 m.

Vigas metálicas (Colombo Esquadrias) sustentam as lajes, o telhado e fazem o travamento dos paredões laterais de blocos de concreto. Repare que a cobertura (de telhas termoacústicas de poliuretano com pintura eletrostática branca na face inferior) possui duas abas laterais envidraçadas, criadas para deixar entrar ainda mais luz natural. Na casa toda, o piso é único: ladrilho hidráulico (Ladrilhos Saltense, ref. B5 Verde Claro), de excelente custo-benefício. (Pedro Napolitano Prata/Divulgação)

A edificação também demandou mais cuidado do que o previsto inicialmente. “Apesar de plano, o lote oferecia muitas dificuldades, pois está numa antiga área de brejo”, explica Erico. Por isso, fez-se necessária uma fundação mais complexa, de estacas, em vez da solução rasa com vigas baldrame. Outro desafio discutido intensamente, já que o sobrado não teria aberturas laterais, foi a iluminação – tanto a natural, captada basicamente de cima graças ao desenho da cobertura, quanto a artificial, com luminárias embutidas nas vigas e alguns refletores usados normalmente em teatros.

Esta vista evidencia um ponto lúdico do projeto: uma espécie de sacada interna (no alto, à dir.) que conecta visualmente o quarto das duas filhas à área social, onde o pé-direito alcança 6,80 m. Ao fundo desta passagem, protegido por uma porta de vidro jateado, fica o banheiro das meninas. (Pedro Napolitano Prata/Divulgação)

Vivendo no lugar há quase um ano, Guto e Adelita seguem enxergando a casa como um processo criativo contínuo, agora palco de uma residência artística batizada de Entre 48 Horas: a cada mês, um profissional conhecido passa duas noites com a família para interagir com todos (inclusive as crianças) e, se for o caso, usar o local como suporte para sua produção artística. “Nós adorávamos nosso antigo apartamento, mas sentíamos falta de algo, não sei bem definir o quê. Só sei que encontramos aqui”, finaliza Guto.

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