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Paris ou Rio? Difícil saber onde está projeto que soma estilos

O mix de referências engana e mal dá para saber se este apartamento fica em uma capital europeia ou na fluminense

Por Joana L. Baracuhy
Atualizado em 9 set 2021, 12h24 - Publicado em 8 nov 2017, 11h00

Talvez acostumado aos prédios centenários de Paris, cidade onde vivia até há pouco tempo (e mantém um braço de seu escritório, o JdJ Design de Interiores), o francês Jean de Just demore a revelar o endereço onde realizou uma de suas intervenções, após se fixar no Brasil.

Abundância de luz natural e bom isolamento termoacústico (as paredes externas são espessas e, internamente, há outras duplas) revelam a qualidade da construção. Isso vale também em acabamentos como o trabalhado piso de tacos de madeira, devidamente recuperado. (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

Enfim menciona o edifício Seabra, construção em estilo eclético localizada na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e bem conhecida dos cariocas – afinal, trata-se da estrutura de 12 andares com arcos à veneziana na fachada e acabamentos opulentos.

Um dos trunfos do imóvel antigo é o pé-direito alto (4,70 m) e preservá-lo incluiu manter o forro de gesso existente, bastante rebuscado. Para maior leveza do conjunto, o arquiteto mesmo concebeu um lustre delicado – sem cristais –, de ferro pintado de branco. (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

“Me disseram ser a primeira torre residencial erguida no Rio”, conta o arquiteto e designer, retomando a história que retrocede a 1931, data na qual a família Seabra concluiu sua inédita empreitada e passou a ocupar a luxuosa cobertura tríplex de 2 mil metros quadrados.

Detalhe da madeira entalhada. (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

O olhar para as marcas do tempo, justamente, foi o que levou o cliente a contratar Jean. “Fiquei conhecido pelo projeto de adaptação e restauro de um hotel na cidade. Ele me procurou porque desejava um procedimento semelhante no apartamento comprado no prédio, tombado faz alguns anos”, continua.

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Espelhos adotados provavelmente na década de 80 marcavam o hall de entrada. Durante a obra, assumiu-se o material, que passou a cobrir as demais paredes do ambiente (o recurso ainda ajuda a multiplicar a claridade no lugar, sem janelas). Jean elegeu este pendente (Tok&Stok) para o teto em busca de um ar retrô e uma iluminação caleidoscópica. (André Nazareth/Andre Nazareth)

A visita à unidade de 150 metros quadrados (porção desmembrada da célebre cobertura) levou Jean de volta à década de 30, assim como à de 60 e 80, e à descoberta de soluções construtivas e decorativas tidas como ideais em diferentes momentos – algumas ele julgou fazerem sentido ainda hoje e manteve, outras não.

Grandes chapas retangulares da rocha que forrava originalmente o apartamento foram descobertas na obra – e recuperadas. Ao visual quente da coloração amarronzada se soma à colocação em espinha de peixe, incomum desde aquela época. (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

Na prática, isso significou uma espécie de arqueologia. Só no piso, foi preciso remover cerca de 10 centímetros, amálgama de carpete aplicado sobre contrapiso e linóleo, até revelar-se o lindo parquê de madeira original.

Por todo lado, a situação era a mesma: camadas e camadas de materiais e ornamentos sobrepostos e justapostos, somatória de sucessivas reformas.

Cada quarto exibe uma cor, derivada da prospecção de materiais e histórias realizada pelo arquiteto. Este é o do morador e ganhou um azul suave e aconchegante (Suvinil, ref. Rio Danúbio). A cabeceira gigante coberta de juta (desenho de Jean) ajusta-se à escala dos espaços. (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

O arquiteto consultou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em busca de diretrizes. E pôs-se a rasgar o pano – a seda que recobria as paredes –, tingir de branco as portas então douradas, além de conceber uma suíte e uma cozinha novas (como resultado da divisão realizada anos atrás, a unidade havia ficado sem este ambiente vital).

Nova em folha, a cozinha tem ares contemporâneos e, clean, ajuda a apaziguar a visão. Nos armários planejados (Florense),  nuances de gelo e cinza dialogam com os matizes do piso. O foco da atenção cabe ao vermelho intenso atrás do fogão. (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

Funcionou. Aqui e ali, espelhos, mármores, portas, tacosmolduras ressurgiram em versão muito particular, porém mais harmoniosa.

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Como o edifício tem lajes duplas, a tubulação de água e de esgoto pôde ser instalada no vão entre os andares e permitiu a criação descomplicada desta sala de banho onde havia um quarto. O visual antiguinho deve-se ainda às louças com coluna (Deca) e às arandelas art déco (Golden-Art). (Andre Nazareth/Andre Nazareth)

“O apartamento ficou um exuberante patchwork”, resume Jean, ponderando que poderia ter atenuado as marcas de época, mas satisfeito por ter enfatizado o valor histórico do lugar, exatamente como lhe foi encomendado. Afinal, ele não agiria assim caso estivesse em Paris?

Fruto do desmembramento de um imóvel maior, o apartamento não tinha cozinha (fez-se uma na ponta do antigo hall). Na reforma, surgiu também um banheiro a  mais, configurando a segunda suíte. Área: 150 m²; projeto de reforma e de interiores e ad ministração da obra: Jean de Just (JdJ Design de Interiores); engenheiro:  Reenge; marcenaria: Hipólito. (Ilustração/Campoy Estúdio)
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