Paris ou Rio? Difícil saber onde está projeto que soma estilos
O mix de referências engana e mal dá para saber se este apartamento fica em uma capital europeia ou na fluminense
Talvez acostumado aos prédios centenários de Paris, cidade onde vivia até há pouco tempo (e mantém um braço de seu escritório, o JdJ Design de Interiores), o francês Jean de Just demore a revelar o endereço onde realizou uma de suas intervenções, após se fixar no Brasil.
Enfim menciona o edifício Seabra, construção em estilo eclético localizada na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e bem conhecida dos cariocas – afinal, trata-se da estrutura de 12 andares com arcos à veneziana na fachada e acabamentos opulentos.
“Me disseram ser a primeira torre residencial erguida no Rio”, conta o arquiteto e designer, retomando a história que retrocede a 1931, data na qual a família Seabra concluiu sua inédita empreitada e passou a ocupar a luxuosa cobertura tríplex de 2 mil metros quadrados.
O olhar para as marcas do tempo, justamente, foi o que levou o cliente a contratar Jean. “Fiquei conhecido pelo projeto de adaptação e restauro de um hotel na cidade. Ele me procurou porque desejava um procedimento semelhante no apartamento comprado no prédio, tombado faz alguns anos”, continua.
A visita à unidade de 150 metros quadrados (porção desmembrada da célebre cobertura) levou Jean de volta à década de 30, assim como à de 60 e 80, e à descoberta de soluções construtivas e decorativas tidas como ideais em diferentes momentos – algumas ele julgou fazerem sentido ainda hoje e manteve, outras não.
Na prática, isso significou uma espécie de arqueologia. Só no piso, foi preciso remover cerca de 10 centímetros, amálgama de carpete aplicado sobre contrapiso e linóleo, até revelar-se o lindo parquê de madeira original.
Por todo lado, a situação era a mesma: camadas e camadas de materiais e ornamentos sobrepostos e justapostos, somatória de sucessivas reformas.
O arquiteto consultou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em busca de diretrizes. E pôs-se a rasgar o pano – a seda que recobria as paredes –, tingir de branco as portas então douradas, além de conceber uma suíte e uma cozinha novas (como resultado da divisão realizada anos atrás, a unidade havia ficado sem este ambiente vital).
Funcionou. Aqui e ali, espelhos, mármores, portas, tacos e molduras ressurgiram em versão muito particular, porém mais harmoniosa.
“O apartamento ficou um exuberante patchwork”, resume Jean, ponderando que poderia ter atenuado as marcas de época, mas satisfeito por ter enfatizado o valor histórico do lugar, exatamente como lhe foi encomendado. Afinal, ele não agiria assim caso estivesse em Paris?