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Crônica: Aprendizado pelo convívio

Como a arquitetura pode favorecer a troca de conhecimento nas escolas e locais de ensino

Por Texto: Leonardo Shieh
Atualizado em 9 set 2021, 13h18 - Publicado em 25 fev 2017, 13h30

A pré-escola e a escola fundamental que frequentei eram pequenas, dessas de bairro, um conjunto de casas adaptadas. Imagino que os donos iam comprando ou alugando dos vizinhos, à medida que cresciam. Em uma delas, a “quadra” de futebol era um polígono disforme de nove lados. Só craque para jogar bola lá! Assim, seguir para o ensino médio na Escola Técnica Federal de São Paulo (atual Instituto Federal), projeto de Zenon Lotufo e equipe, foi positivamente impactante. De feições modernistas, chamava-me a atenção o alongado eixo universal, com prédios de cursos específicos desmembrando- -se desse grandioso espaço de encontro. Mais marcante ainda foi estudar arquitetura no edifício-meca de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi – trocar ideias com colegas e professores pelas rampas, sob a luz amarelada dos domus, dia após dia. Alguns anos mais tarde, via-me num pequeno grupo de mestrado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). O curso era intenso e não tinha prédio dedicado no campus. Tirávamos proveito de todo e qualquer lugar para nos reunir, discutir, fazer bancas de apresentação. É como se os trabalhos fossem sempre escancarados e compartilhados – aprendíamos vendo-nos uns aos outros. Incrível como esses locais onde passamos os anos mais importantes de nossas vidas ficam em nosso repertório. Somos resultado da somatória dessas vivências, boas e ruins. E, feito arquiteto, resgatar tais registros não é uma questão de memória afetiva, e sim de profissão. Numa época em que o mundo parece se resumir à interação pelo celular, apostar em experiências de arquitetura que favoreçam o encontro, o trabalho em grupo e a profusão de ideias é um caminho importante para se projetar, principalmente se pensarmos na função de uma escola que, além de educar, é também promover o intercâmbio de conhecimento com base no diálogo. Vejo como ponto importante de inflexão, nesse sentido, repensar a função dos corredores nos projetos educacionais. Assim, abrimos espaço para desenhar as salas de aula ao redor de pátios, sempre equipados com pufes, bancos, mesas e nichos com lousas à disposição dos alunos para que a comunicação flua como deve ser em um ambiente escolar.