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3 perguntas para o arquiteto Eduardo de Almeida

O consagrado profissional paulistano fala sobre gentileza urbana

Por Por Silvia Gomez
Atualizado em 9 set 2021, 13h49 - Publicado em 15 dez 2016, 19h03

Com a premissa de que a relação da arquitetura com o entorno tem de ser gentil, a obra do paulistano Eduardo de Almeida, 83 anos, tornou-se uma referência. Formado em 1960 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), onde mais tarde viria a dar aulas, ele coleciona projetos premiados, como a recente Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, em São Paulo.

Como a arquitetura aconteceu na sua vida?

Lembro perfeitamente – um momento em que fiquei dois anos parado por causa de uma doença e tive de fazer repouso absoluto. Minha mãe gostava muito do assunto e me trazia livros, recortes de jornal… De repente, me vi embalado. Entrei na faculdade aos 21 anos, época da implantação da arquitetura moderna no Brasil, com Vilanova Artigas [1915-1985], Rino Levi [1901-1965]. Tínhamos até time de futebol – a favor disso e contra aquilo. A FAUUSP era perto de cinemas, museus. Tudo acontecia ali, o que foi maravilhoso para minha formação.

É diferente desenhar a residência de um filho (veja o projeto aqui)?

É a mesma coisa fazer a Brasiliana e uma casa. Os problemas são os mesmos, apesar de cada um ter o seu contexto. A relação da arquitetura com o entorno tem de ser gentil. Sempre falei em gentileza urbana simplesmente porque acho que é assim que deveriam ser todas as relações: amigáveis. Nós estamos vivendo uma época de extrema agressividade. Portanto, quando você tem a possibilidade de oferecer um espaço mais agradável, é algo muito importante.

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Qual o papel do arquiteto nesse contexto, de cidades com desafios tão complexos?

A cidade está sendo maltratada, mas as pessoas não se dão conta de que seu ambiente é e vai ser cada vez mais a cidade. São Paulo, por exemplo, tem sido planejada pelo mercado imobiliário: a habitação em geral é colocada sob a perspectiva do mercado, e a qualidade de vida, ou seja, do espaço urbano, não é levada a sério. Nós, arquitetos, discursamos sobre essa relação, mas tudo ainda é encarado com muita timidez. A mobilidade é uma palavra na moda. Temos de entender que a rua não é mais aquela projetada para carroças, no século 19. Precisamos pensar o urbanismo de agora, olhar de frente a questão do transporte mecanizado, que passou a ser vilão, mas não é. É, na verdade, resultado dessa abordagem – ou da não abordagem – do espaço urbano. Em todos os nossos governos, foi privilegiado o transporte individualizado, e o coletivo continua sendo o grande problema. A rua hoje é um lugar de conflitos. Precisamos atualmente de atitudes não apenas generosas, como corajosas. Serão soluções complicadas e caras, mas necessárias.

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