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Sobrado estreito ganha vida em reforma

Numa jogada de sorte, o destino mostrou ao casal – uma atriz e um arquiteto – o imóvel de 3,41 m de largura. Coube a eles valorizar cada centímetro do potencial do prédio

Por Por Mayra Navarro (visual) e Joana L. Baracuhy (texto) | Projeto: ODVO Arquitetura e Urbanismo
Atualizado em 9 set 2021, 13h59 - Publicado em 15 jun 2016, 21h15

“Nosso plano era encontrar um terreno e construir, mas vimos que seria quase impossível conseguir isso com a grana que tínhamos e nos bairros preferidos. Passamos então a procurar imóveis para reformar, em pontos interessantes: com clima de cidade pequena e perto do metrô. Ao visitar um apartamento na Vila Mariana, notamos este sobrado, perto do Parque da Aclimação. O quarteirão inteiro tem lotes de 15 m de frente e, no meio dele, quatro casas geminadas – esta era uma delas. Ligamos para o celular da placa de vende-se no próprio sábado à noite, falamos com o proprietário e começamos a negociação.

Inicialmente a construção não chamou a minha atenção: típica ‘casa de vovó’ remodelada, com laje e portão alto na garagem à frente. Mas passei a me interessar por causa da Gi, minha mulher, que captou o alto-astral do lugar. Era tudo compartimentado, estreito e, sem aberturas dos dois lados, com ventilação e iluminação críticas. Dava para sentir o cheiro de mofo. Havia um banheirão, área de serviço enorme e estar compacto. Mas notamos ali algo digno de resgate. Para começar, uma escada maravilhosa. Estava recém-pintada, dentro de uma caixa de alvenaria, mas era central, bem posicionada. Silenciosa, com três andares e repleta de madeira, a casa trazia uma sensação de acolhimento. E assim a Gi me convenceu de que valia a pena. 

Fizemos o projeto com a ajuda da equipe do meu escritório e de muitos amigos, até iniciarmos o trabalho – uma investigação. O engenheiro descobriu que o projeto acumulava três ampliações: nos anos 50, 70 e 80. Ou seja, a cada etapa da nossa obra surgia algo imprevisto, forçando uma revisão de planos. Nos adaptamos, sem deixar de abrir bastante as fachadas para o entorno. Queríamos poder ocupar plenamente o espaço: ter bichos, tocar instrumentos, dançar, ensaiar… O principal era mesmo garantir a saúde no local, com a presença de muita luz natural e ar fresco, daí tanta demolição.

Nos 363 dias de empreitada fomos descobrindo como proceder sem descaracterizar o original nem estourar o orçamento. Restauramos os itens antigos que valiam a pena e ressaltamos as intervenções por meio de elementos contemporâneos, como as vigas metálicas, o cimentado. A decisão mais inusitada talvez tenha sido derrubar parte do piso da entrada para duplicar o pé-direito da cozinha, instalada no patamar inferior. Valeu muito. Numa cidade como São Paulo, o vão sob o enorme caixilho aberto nos concede sentar à mesa e apreciar a lua cheia, por exemplo”

Victor Oliveira Castro, arquiteto e morador

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