Reforma atualiza casa em Paraty, mas preserva sua identidade
O imóvel do século 18 foi adaptado aos usos contemporâneos, mas teve seus traços coloniais mantidos
À luz da história de Paraty, cidade fluminense tombada em 1958 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por seu conjunto arquitetônico colonial, é bem provável que esta casa de 205 metros quadrados tenha sido em seus primeiros tempos – o século 18 – um armazém. Ou então um imóvel de uso misto: loja na frente e moradia atrás.
“Eram assim as construções situadas no centro histórico, justamente o caso dela, que está perto do cais”, afirma o arquiteto Renato Tavolaro, autor não apenas deste, mas de outros 50 restauros semelhantes na região. “Já tinha inclusive refeito esta mesma casa, nos anos 80, encontrada então em ruínas”, conta.
De volta às suas mãos, o projeto agora apresentava menos problemas, mas pedia igual cuidado. “A umidade da área de praia degrada as estruturas, por isso criei novas aberturas onde era permitido, a fim de favorecer a troca de ar.”
Algumas delas nasceram no sótão, convertido em suíte. “Consegui aprovar um banheiro nesse ambiente e, para aumentar a ventilação e a entrada de luminosidade, constituímos ali uma espécie de mansarda, além de rasgar seteiras nas paredes [frestas de 10 cm fechadas com vidro].”
Mas é no piso principal, o térreo, onde percebe-se tão claramente o empenho em preservar a memória do jeito de morar da época. A começar pelas paredes de pedra moledo, descascadas em alguns trechos internos e expostas como testemunha da passagem dos anos.
Ou então pelo teto, marcado pelo forro de madeira com o desenho conhecido como camisa e saia (ou saia e blusa), formado por tábuas encaixadas ora em relevo ora em rebaixo. “Apenas na cozinha, retirei esse forro para revelar a estrutura do telhado e dar maior volumetria ao espaço”, justifica Renato.
Finalmente, são as esquadrias as outras joias do passado, caso da porta de entrada com seu complemento de muxarabi, pelo qual as mulheres conseguiam espiar a rua sem se expor. “Também dá para perceber na fachada que as janelas um dia foram portas, possivelmente de um comércio.” Talvez daquele armazém à espera de quem desembarcava no cais.