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Reforma atualiza casa em Paraty, mas preserva sua identidade

O imóvel do século 18 foi adaptado aos usos contemporâneos, mas teve seus traços coloniais mantidos

Por Deborah Apsan (visual) e Silvia Gomez (texto)
Atualizado em 9 set 2021, 12h44 - Publicado em 7 jul 2017, 17h04

À luz da história de Paraty, cidade fluminense tombada em 1958 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por seu conjunto arquitetônico colonial, é bem provável que esta casa de 205 metros quadrados tenha sido em seus primeiros tempos – o século 18 – um armazém. Ou então um imóvel de uso misto: loja na frente e moradia atrás.

Visão do quarto principal da residência, localizado na frente da planta e voltado para a rua. (Cacá Bratke)

“Eram assim as construções situadas no centro histórico, justamente o caso dela, que está perto do cais”, afirma o arquiteto Renato Tavolaro, autor não apenas deste, mas de outros 50 restauros semelhantes na região. “Já tinha inclusive refeito esta mesma casa, nos anos 80, encontrada então em ruínas”, conta.

De volta às suas mãos, o projeto agora apresentava menos problemas, mas pedia igual cuidado. “A umidade da área de praia degrada as estruturas, por isso criei novas aberturas onde era permitido, a fim de favorecer a troca de ar.”

Algumas delas nasceram no sótão, convertido em suíte. “Consegui aprovar um banheiro nesse ambiente e, para aumentar a ventilação e a entrada de luminosidade, constituímos ali uma espécie de mansarda, além de rasgar seteiras nas paredes [frestas de 10 cm fechadas com vidro].”

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A cozinha integrada permaneceu como um corredor com pé-direito de 4 m. Retirado o forro nesse trecho, revelou-se a estrutura do telhado, de ipê. Agora, por toda a casa, o piso leva porcelanato cinza (linha Concretíssyma, da Portobello), cortado em formato irregular. (Cacá Bratke/Cacá Bratke)

Mas é no piso principal, o térreo, onde percebe-se tão claramente o empenho em preservar a memória do jeito de morar da época. A começar pelas paredes de pedra moledo, descascadas em alguns trechos internos e expostas como testemunha  da passagem dos anos.

A partir do quarto principal, o corredor de entrada: a parede descascada revela a pedra moledo antiga da estrutura, protegida com hidrofugante de silicone (Acqüella, da Vedacit) para não soltar pó. “Obtida na região, essa pedra compunha a sustentação das casas. Já as divisórias internas eram de taipa, agora substituídas por alvenaria”, conta o arquiteto. (Cacá Bratke/Cacá Bratke)

Ou então pelo teto, marcado pelo forro de madeira com o desenho conhecido como camisa e saia (ou saia e blusa), formado por tábuas encaixadas ora em relevo ora em rebaixo. “Apenas na cozinha, retirei esse forro para revelar a estrutura do telhado e dar maior volumetria ao espaço”, justifica Renato.

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Nova no projeto, esta varanda repete os acabamentos da época colonial, caso da cobertura de ipê. (Cacá Bratke/Cacá Bratke)

Finalmente, são as esquadrias as outras joias do passado, caso da porta de entrada com seu complemento de muxarabi, pelo qual as mulheres conseguiam espiar a rua sem se expor. “Também dá para perceber na fachada que as janelas um dia foram portas, possivelmente de um comércio.” Talvez daquele armazém à espera de quem desembarcava no cais.

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