Projeto menos conhecido de arquiteto famoso é atualizado
Iluminação com led, internet sem fio, reúso de água da chuva. Essas e outras tecnologias agora integram esta casa cinquentenária, obra de Eduardo Longo
Eles ainda não haviam nascido quando o paulistano Eduardo Longo começou a inventar as residências que marcaram sua carreira de profissional liberto de correntes e estilos. Mas logo perceberam o valor da casa de 1969 à venda em um bairro da Zona Oeste de São Paulo.
“Ela tem uma arquitetura única, da qual gostamos muito. Era importante manter a originalidade do projeto do arquiteto, cujo trabalho nós já conhecíamos”, afirma a nova moradora.
Para revigorar a construção desgastada, adaptando-a a tecnologias atuais, a artista plástica e o marido, engenheiro mecânico, procuraram o arquiteto José Luiz Favaro – oito anos antes, ele reformara o apartamento onde os clientes e seu filho mais velho viveram até a mudança para o endereço atual.
“Recuperamos tudo o que foi possível, do piso de cimento queimado verde até a iluminação, que é de parede”, conta a moça. “No caso dos domos para iluminação natural, eles foram mantidos e reproduzidos nas áreas ampliadas.”
O que não foi refeito recebeu alguma sinalização. “Nas fachadas, por exemplo, as partes lisas são do Longo, enquanto ficaram no chapisco as áreas construídas depois e os trechos que tiveram a cor modificada”, afirma José Luiz, explicando que o cinza substituiu o verde.
“Como o entorno é muito arborizado, tínhamos de fazer a casa sobressair. Pelo mesmo motivo, insisti para que as esquadrias de ferro, preservadas, fossem pintadas de laranja.”
Enquanto pedreiros e companhia se apoderavam do pedaço, o arquiteto estudava a obra de Longo e desencavava a história da residência. “Só encontrei uma menção a este projeto em uma dissertação de mestrado, mas acabei perdendo essa referência”, conta.
Bastou, no entanto, para que reconhecesse o formato triangular da planta original e o bloco emendado na ala de serviço. José Luiz conservou essa extensão e ergueu sobre ela um closet e um banheiro mais amplo para o casal, o que foi uma verdadeira saga.
“Nós mandamos avaliar os alicerces e descobrimos que esse módulo contava apenas com um baldrame, incapaz de aguentar o peso extra, até porque o terreno fica em uma região de aterro. Depois de uma prospecção do solo, sapatas e microestacas reforçaram as fundações e toda a estrutura foi amarrada novamente. Só então subimos as paredes de cima”, relembra.
Visto que a cobertura exigia nova impermeabilização, aproveitou-se para mudar o seu caimento e para cobri-la com argila expandida, material que melhorou a temperatura interna. Ainda assim, os quartos mereceram aparelhos de ar-condicionado, com condensadores alocados sobre a construção. Alterada a inclinação da laje, agora a água da chuva é coletada, filtrada e reutilizada.
Após quase 50 anos de vida e 15 meses de reforma, a casa ficou tão confortável e sustentável quanto os novos donos planejavam. E já acolhe mais um morador: o caçula nasceu nesse patrimônio pouco conhecido da arquitetura paulista.