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Casa é toda aberta para o jardim

Duas sombras, três sóis. Esse é o nome dado a esta residência em Mogi das Cruzes, São Paulo, por seus arquitetos e moradores, o casal Ana Lucia Longato e Ciro Pirondi. A explicação está no jogo integrado de áreas cobertas e espaços verdes cheios de luz proposto pelo desenho

Por Por Deborah Apsan e Elena Caldini (visual) e Silvia Gomez (texto) | Projeto Ciro Pirondi e Ana Lucia Longato
Atualizado em 9 set 2021, 14h00 - Publicado em 1 jun 2016, 16h00

O nome é até mais comprido: “Duas sombras, três sóis e um tênue fio que os une”. Foi esse o título dado a um dos primeiros croquis coloridos à mão pelo arquiteto e morador Ciro Pirondi, autor do projeto em Mogi das Cruzes, SP, ao lado da esposa, Ana Lucia Longato. “Trata-se de um conceito. É fundamental entender nesta construção o jogo de sombra e luz, representados respectivamente pelas áreas cobertas [estar e dormitórios] e pelos trechos de jardim, que não são apenas decorativos mas parte vital do desenho”, explica Ciro. Já o “tênue fio” se refere à galeria pintada de ocre e situada no centro da planta, com 18,50 m de extensão. Além de receber o escritório, ela atua como corredor entre os quartos e a sala, uma passagem agradável, voltada para o jardim.

Curiosamente, naquele primeiro esboço, feito em 2006, apareceu também ilustrada, à frente da fachada, uma grande pedra. “Isso até me emociona. Eu não lembrava que a tinha desenhado, mas deve ter sobrado uma memória residual desse desejo, pois quatro anos depois, já no final da obra, me deparei com o pedaço de rocha descartado na estrada – e o transportei até o local exato.” A peça marca desde então a entrada de sua residência – não parece, mas a construção se divide em duas partes. São dois imóveis idênticos e simétricos no terreno de 20 x 60 m. Um deles foi vendido a um escritório de advocacia, ajudando a pagar os custos do outro. A condição para fechar o negócio com o cliente: não instalar nenhum tipo de grade ou muro, preservando o recuo de 20 x 20 m oferecido como um tipo de praça à cidade. “Usamos muito essa área, cuja segurança está justamente no fato de ser aberta, visível”, afirma Ana. Ideologicamente, essa opção defende uma posição da arquitetura do casal. “Nenhuma residência é privada, mas sim pertencente a uma dimensão pública, já que é viabilizada por bens comuns como as redes de esgoto e água, o sol e os ventos”, teoriza Ciro.

Sob esse viés, outra premissa era a abertura de espaços. Com lajes pré-fabricadas de concreto apoiadas apenas em dois paredões laterais revestidos de pedra, a morada não tem pilares. “A fundação de sapata corrida trabalha por compressão”, explica Ciro. Painéis de vidro separam dentro e fora e o ir e vir é fluido, sem obstáculos. “A disposição da planta permite uma circulação de 360 graus o tempo todo – você entra num cômodo e sai no outro”, descreve Ana. Ou melhor, vai de uma sombra a outra, passando entre sóis.

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