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Concreto à mostra: reforma atualiza apartamento em Brasília

Num prédio icônico da capital federal, a morada clara e espaçosa encantou uma família, disposta a valorizar a arquitetura original

Por Joana L. Baracuhy
Atualizado em 9 set 2021, 13h56 - Publicado em 11 out 2016, 21h22

Para quem não traz o mapa da cidade na memória, o brasiliense Matheus Seco, integrante do escritório Bloco Arquitetos, ajuda com um pouco de geografia e história recente. “O apartamento fica na SQN 107, num conjunto habitacional de 1966, de proposta brutalista, que andou mal cuidado e era visto com preconceito. Isso até ser revitalizado há poucos anos e virar ‘cult’.”

O apartamento integra o residencial São Miguel, projetado por Mayumi Watanabe de Souza Lima (1934-1994) e Sérgio de Souza Lima para funcionários da Universidade de Brasilia (UNB). Assinado pela arquiteta e educadora que colaborou com nomes como Vilanova Artigas (1915-1985) e Lina Bo Bardi (1914-1992), enfrentou o desprestígio. Anos atrás, começou a recuperação do local, liderada em grande medida por novos proprietários. (Divulgação/Haruo Mikami)

Algo parecido descreve Eduardo Rossi Fernandes, que em 2015 contratou Matheus e seus colegas para a reforma do imóvel, ao relatar como ele e a mulher encontraram a nova residência.

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“Estávamos em busca de um predinho sem elevador nem garagem e vimos esta oportunidade num site. Fomos visitar o lugar e tivemos certeza na hora. Mesmo com o valor acima do programado, não deu para escapar”, diz ele.

O concreto aparente (feito no local em fôrmas dispostas na vertical) ressurgiu após a retirada do reboco e da tinta que o cobriram numa reforma anterior. Marcas e irregularidades foram assumidas. O mesmo ocorreu nos elementos estruturais da fachada, junto às janelas. Na iluminação, os arquitetos adotaram spots presos em trilhos que desenham um quadrado na laje, para um efeito cenográfico. Sofá da Lider Interiores. (Divulgação/Haruo Mikami)

A sala ampla, luminosa, e a fachada diferente cativaram o casal. “Passamos a pesquisar tudo a respeito da arquitetura do prédio, descobrimos quem foram os autores do edifícioMayumi Watanabe de Souza Lima e Sérgio de Souza Lima –, entendemos a importância da intenção original deles, de erguer tudo com pré-moldados em busca de agilidade e escala no canteiro de obras, parte do ideário moderno…”, resume.

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A divisória de marcenaria com vidro comum (6 mm) e película jateada deixa a claridade da área de serviço entrar, mantendo a privacidade. (Divulgação/Haruo Mikami)

A escolha dos profissionais para a necessária reforma, claro, também foi tema de estudo. O casal chegou a mais de uma dezena de bons nomes, de São Paulo a Goiás, até decidir pela alternativa local.

Os dois colecionaram referências, ideias, e as apresentaram à equipe do Bloco. Assim foram decidindo o que fazer. Uma estante de fora a fora, sala e cozinha integradas e foco nos espaços de convivência (quartos compactos, sem TV) constavam da lista de pedidos.

Encarregado do acompanhamento da obra, Bruno Goldenberg entrou na sintonia. “Ele é arquiteto e entendia o valor de executar cada detalhe conforme planejado, com bom preço e no prazo”, elogia Eduardo. Cinco meses depois, até os móveis novos – sim, também minuciosamente calculados – já estavam postos.

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A estante muda de função ao longo da parede e ajuda a setorizar os espaços. (Divulgação/Haruo Mikami)

Hoje, a família celebra o silêncio reinante (as unidades ficam desencontradas umas das outras nas laterais e as lajes duplas bloqueiam o som dos passos entre os andares) e a brisa contínua, que dispensa totalmente o ar condicionado.

“Me divirto quando alguém vem entregar pizza e se surpreende ao descobrir não se tratar de uma torre comercial”, conclui Eduardo

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